Alquimia Interior

Talvez você já tenha ouvido falar das tentativas lendárias dos alquimistas medievais de transformar metais comuns, como chumbo, em ouro. Geralmente existem duas interpretações dessa alquimia. Alguns veem essas experiências como os primeiros passos na ciência da química. Outros vêem a alquimia como uma metáfora para o desenvolvimento da espiritualidade e a transmutação, que são tão relevantes hoje quanto há milhares de anos atrás. Nesse processo transformacional, o praticante transforma seu corpo físico normal (chumbo) em um corpo mágico de energia (ouro). Essa segunda interpretação é a que se aplica à alquimia taoísta.

O foco taoísta no desenvolvimento de energia, longevidade e iluminação levou à invenção de seu sistema fascinante e altamente secreto de alquimia interna que também usava a metáfora de transformar chumbo em ouro. Na alquimia taoísta, o praticante converte sua essência física em espírito e, finalmente, no próprio Tao. Nesse processo, você aprende a liberar o fluxo de chi, ou energia interna, dentro do seu próprio corpo e sincronizá-lo com o fluxo de energia no universo. Isso abre novo canais de energia e informação, ao mesmo tempo que desacelera ou até reverte o processo de envelhecimento.

A tradição taoísta fornece maneiras de aplicar a alquimia em todos os aspectos da sua vida - acordando, dormindo, comendo, se exercitando, fazendo amor e assim por diante. Certos exercícios foram transmitidos de geração em geração e, em seguida, aperfeiçoados e aprimorados ao longo dos anos por muitos grandes mestres.

Obviamente, quem fala sobre taoísmo enfrenta o mesmo enigma descrito por Lao Tzu, o autor do manual filosófico taoísta por excelência, o Tao Te Ching (pronuncia-se Dau De Djing), que escreveu: “O Tao do qual se pode falar não é o Tao eterno” e “Aquele que sabe não fala e aquele que fala não sabe.” Então, como alguém escreve um livro sobre um sistema de desenvolvimento físico, espiritual e psicológico quando o próprio fundador afirmou que quem sabe não fala?

Naturalmente, Lao Tzu, como autor de um livro sobre taoísmo, deve ter enfrentado a mesma pergunta. Parece provável que as palavras de advertência de Lao Tzu sejam direcionadas mais para os leitores do que para os escritores de livros taoístas e deve servir como um lembrete para todos aqueles que desejam alcançar o Tao que o conhecimento do Tao deve em última instância vir da experiência pessoal (nesta vídeo animação bem-humorada, uma estudante do Tao tenta explicar isto a um curioso).

O Taoísmo refere-se a uma variedade de tradições e conceitos filosóficos e religiosos que se desenvolveram na China há mais de dois mil e quinhentos anos atrás. Suas raízes podem ser atribuídas a religiões shamânicas folclóricas pré-históricas. Lao Tzu é tradicionalmente considerado o fundador do taoísmo, embora não haja provas de que uma pessoa chamada Lao Tzu realmente tenha existido. Ele recebeu o reconhecimento imperial como uma divindade no segundo século d.C. e o taoísmo ganhou status oficial na China durante a dinastia Tang (618-907 d.C.).

É muito difícil caracterizar o taoísmo porque não era uma tradição cujos líderes articularam um sistema de crenças ortodoxo. Nem tentaram impor um conjunto rígido de idéias sobre o que é o Taoísmo. O Taoísmo nunca foi uma religião unificada, mas consistiu de numerosos ensinamentos de diferentes fontes e tem sido frequentemente combinado com o Budismo e o Confucionismo - os outros dois principais sistemas filosóficos / religiosos na China.

Esse ecletismo decorre em parte do fato de que os taoístas geralmente não se consideravam seguidores de uma única comunidade religiosa com um único conjunto de ensinamentos ou práticas. Ao contrário do cristianismo, confucionismo ou budismo, o taoísmo não surgiu dos ensinamentos supostamente divinamente inspirados em um único líder. E como não havia ensinamentos ou comunidade originais, os taoístas ao longo da história nunca se sentiram obrigados a fazer com que suas crenças e práticas aderissem a qualquer padrão específico.

Consequentemente, existem muitas escolas diferentes de taoísmo e é impossível identificar idéias ou práticas específicas que são geralmente aceitas por todos os taoístas. Com o entendimento de que qualquer descrição do taoísmo é uma generalização e que sempre haverá exceções, ainda existem várias crenças fundamentais que a maioria das escolas compartilha. Podemos dividir a prática taoísta em quatro categorias gerais:

Filosofia: A primeira é a filosofia taoísta, enraizada nos ensinamentos de Lao Tzu e Chuang Tzu, os dois grandes mestres filosóficos da tradição. Essa filosofia concentra-se em viver em harmonia com a natureza, correspondências humano/universo, vitalidade, paz, vazio, wu wei (ação sem esforço), liberdade e espontaneidade. Essa categoria também inclui os principais conceitos taoístas de yin/yang, as idéias expressas no Livro das Mutações (I Ching) e os cinco elementos chineses (madeira, fogo, terra, metal, água).

Saúde: A segunda é a busca taoísta de saúde e longevidade. Essa parte do taoísmo inclui a tradição alquímica e também se concentra no desenvolvimento do chi (qi, ou energia interna), saúde, artes marciais taoístas (como o tai chi), medicina chinesa e imortalidade.

Ética: A terceira é a ética, uma tradição fortemente influenciada pelo confucionismo, que enfatiza a importância de boas ações e o budismo, que enfatiza a principal lei universal do karma. Esse aspecto do taoísmo enfoca as três jóias (ou os três tesouros) do Tao: compaixão, moderação e humildade.

Práticas esotéricas: A quarta é uma categoria geral que abrange uma variedade de práticas esotéricas, incluindo adoração de ancestrais, astrologia e outras formas de adivinhação, jardinagem, arte (incluindo caligrafia), culinária vegetariana, feng shui.

Naturalmente, os elementos das diferentes categorias se sobrepõem e, da maneira típica taoísta, devem funcionar como um todo e não como peças individuais.

Ao longo dos anos, a influência do taoísmo na cultura chinesa aumentou e diminuiu, dependendo de quem estava no poder na época. Mas nos últimos tempos, os praticantes taoístas viajaram para o Ocidente e trouxeram seus conhecimentos e crenças para uma cultura que os acolheu. Nas últimas décadas, centenas de textos taoístas foram traduzidos para o inglês pela primeira vez.

De muitas maneiras, nunca houve um momento melhor para estudar essa tradição antiga e fascinante. Para empreender esta "jornada de mil milhas", basta começar com o primeiro passo....

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