Por que Somos Viciados em Adrenalina?

No nível da consciência biológica, nós temos um medo natural que está relacionado a sobrevivência. Um outro medo no nível da consciência psicobiológica está relacionado a não ter comida suficiente ou onde se vai morar. O instinto de sobrevivência é essencial para a vida. Para sobreviver necessitamos de um input de energia e isto é criado pela adrenalina.

No nível psicoespiritual existem medos que são conectados com o hábito e o vício.

Nós temos medo das outras pessoas e se elas vão ou não nos amar e nos aceitar. Muitos de nós temos grandes ideias, muitos de nós recebemos informações que poderíamos colocar em ação, mas o medo de não sermos aceitos pelos outros bloqueiam nosso potencial e nossa expressão.

Nós temos medo de nossos próprios pensamentos e sentimentos. Nós achamos que podemos não saber o suficiente, ou talvez estejamos enganados ou inseguros sobre as crenças que possuímos. Nós temos tanto medo de nossos sentimentos que mesmo quando se refere a sentimentos de amor, tendemos a segurá-los.

E nós temos medo da morte e de morrer.

Nós lidamos com tudo isto nos mantendo ocupados e para isto também precisamos de adrenalina. Estar ocupado(*) fornece a nós uma distração, o que nos impede de perceber realmente estes medos no nível psicoespiritual. Esta é uma estratégia brilhante para a mente, mas um desastre no que se refere à questão de encontrar paz interior, liberdade, quietude, amor e compaixão.

O medo da morte nos persegue por toda a vida. A maioria de nós tende a adiar encarar o fato de que iremos morrer algum dia. Somos todos mestres na arte da evitação. Nós não sabemos quando, como ou onde isto acontecerá - e isto é um dos nossos maiores medos na vida. Até mesmo tradições religiosas nos encorajam a acreditar que a morte existe apenas no futuro. Se nos sentimos infelizes nesta vida e acreditamos na reencarnação, sempre poderemos ter esperança de uma vida mais fácil na próxima vez, ou nos apegarmos à esperança de que há um paraíso para onde ir quando morrermos. Mas e se não houver nenhum paraíso e nenhuma garantia de renascimento? O que é que podemos esperar que continue após nós morrermos?

O que é esta entidade que estamos defendendo? Por exemplo, quando você se sente ofendido com algo que alguém diz para você, quem ou o que foi ofendido? O ego reage, mas ele é uma imagem construída ao longo do tempo, baseado sobre suas reações, percepções, sentimentos, pensamentos, atitude, valores e crenças. O ego é desesperadamente temeroso da sua morte e tenta lutar contra ela.(*)

No entanto, não há absolutamente nenhuma maneira de proteger a si mesmo de ser ofendido e quando nós realmente reconhecemos isto, isto nos traz um grande sentimento de liberação. Quanto mais pessoas você conhece, tanto mas é provável que haverá algumas delas que desgostem de você e que estarão contra você de alguma forma. Evitar ser ofendido apenas é possível sendo agressivo em relação a outras pessoas ou a si mesmo. Você poderá dizer que a razão que as pessoas não gostam de você é porque você não é bom o suficiente, ou porque tem algo errado com você. Isto apenas ofende a você mesmo. Pode ser que você goste de alguém mas receia que a pessoa possa não retornar este sentimento em relação a você e você nem mesmo expressa o que sente por aquela pessoa.

Ao lidar com tudo isto nós utilizamos de 50 a 60% de nossa energia, porque demanda ação e portanto um input de adrenalina. Como nós lidamos com este vício? Nós precisamos de nosso ego nos níveis de consciência biológica e psicobiológica para lidar com a vida diária e não há nada errado em ter opiniões, ideias, interpretações ou julgamentos. Entretanto, nada disto funciona no nível psicoespiritual.

Se alguém não gosta do seu corpo, esta pessoa está dizendo a você algo sobre ela mesma e o seu gosto, não sobre você. Se você identifica o seu corpo, seu conhecimento ou suas idéias consigo mesmo, então você está perdido. O ego é apenas uma parte de quem você é. Amor, por exemplo, não tem nada a ver com o ego. Tudo que tem a ver com o ego pode ser aprendido, treinado e exercitado e é parte da experiência ou do passado. O amor nunca pode ser aprendido ou praticado, tão pouco morrer. Precisamos diferenciar entre os vários estados de existência para ver que o instrumento do ego é eficiente no nível biológico, mas no nível psicoespiritual ele é um desastre.

Níveis de consciência
Qual a diferença entre consciência biológica e consciência psicoespiritual? A consciência biológica e parte da consciência psicológica estão conectadas intimamente com a estrutura genética, que tem a ver com sobrevivência. A consciência biológica está tão somente preocupada com a sobrevivência. Sem este mecanismo essencial, a espécie humana teria morrido há muito tempo atrás. Amor, felicidade e espiritualidade não são necessários para a sobrevivência. O nível psicoespiritual é um luxo da existência que aumenta a qualidade de vida, não a quantidade. Não somente os ensinamentos espirituais mas também a pesquisa científica moderna sobre o cérebro mostram que em certos estados da mente é possível experienciar uma expansão da consciência.

O que precisamos fazer agora é aprender a utilizar este potencial em termos práticos para ver como funcionamos de fato. De acordo com a física moderna o corpo é feito de átomos e um átomo é majoritariamente composto por espaço vazio. Mas, ainda que o corpo seja essencialmente vazio e o ego uma ilusão, o que você sente é muito real e isto não ajuda muito quando você bate com a cabeça por que ela dói. Nós temos que distinguir entre os níveis diferentes de consciência.

O nível psicoespiritual não tem nada que ver com sobrevivência e o ego não tem nada a ver com as qualidades do espírito. O corpo existe como forma, com um lado interno, um lado externo e um limite; o ego se associa com o corpo e se enxerga como uma forma também. Ele portanto tem a ilusão de que pode se proteger a si mesmo, se defender e criar limites, mas é tudo estruturado no tempo e na dualidade. O ego é e sempre será uma prisão e apenas pode ser transformado no nível psicoespiritual. Apenas quando nós vemos que existe algo para além da dualidade é que nós nos encontramos livres.

Apego às imagens
Psicologicamente nós somos viciados nas imagens, ou figuras de como deveríamos ser, que nós modificamos ao longo do tempo à medida em que nossa experiência e nosso conhecimento aumenta. Dez anos atrás a figura que você tinha de si mesmo, por exemplo, é provavelmente muito diferente daquela que você tem agora. Todos nós vemos e experienciamos coisas não como elas verdadeiramente são, mas distorcidas de acordo com a nossa imagem, nossa percepção do acontecimento. O ego é totalmente dependente de imagens e estas imagens são de fato a substância do ego.

O ego respira imagens. Estas imagens são reforçadas todo tempo pela adrenalina. Quanto mais medo você tem, tanto mais você irá criar imagens na sua mente. É por isto que uma das primeiras frases na Bíblia fala sobre não criar imagens; é por isso que os ensinamentos hindu e budista nos alertam para sermos conscientes da ilusão e do papel das imagens no processo de apego.

A maioria dos nossos pensamentos e ideias são tão fortemente condicionados que até mesmo as palavras podem significar coisas diferentes. Por exemplo, se você diz que ama alguém, você quer dizer fazer sexo, que tem a ver com o prazer, alegria e diversão, ou você quer dizer que você gosta e cuida de alguém? Ou se você se sente triste, você quer dizer que você sente pena de si mesmo ou de alguma outra pessoa?

É muito fácil se tornar apegado a uma ideia que cria uma forma de segurança; então nós ou temos que defendê-la contra ideias alternativas ou descartamos a ideia original pela nova. É assim que a ideologia na forma extrema se torna o fascismo, a crença de que estamos certos e alguém está errado. A pior forma de fascismo é o fascismo espiritual. Portanto, a liberdade é impossível se estivermos apegados a imagens, ideias e a uma noção fixa de como as coisas deveriam ser. Nós somos tão vigilantes de como deveríamos ser, como devemos nos comportar em relação às outras pessoas, etc. Tudo isso nos impede de ver a beleza a nossa volta. Nós somos aprisionados por qualquer coisa que esteja acontecendo. Para ter a energia que mantenha você nesta prisão você precisa de adrenalina. Todo movimento de produção de adrenalina no nivel da consciência biológica é necessário e aceitável, uma vez que é um mecanismo de sobrevivência. Mas se você extrapola esse mecanismo de sobrevivência para o nível psicoespiritual, você cria problemas.

O ego é um mecanismo de defesa constante, lutando para preservar suas ideias, imagens, ideologias e figuras de como as coisas deveriam ser. Para ser livre você tem que cortar o passado, cortar o ego. Você tem que libertar-se dos efeitos venenosos da adrenalina e do desejo constante de defender quem você acha que você é.

(*)Para saber mais sobre o ego e dicas de como reduzir sua influência no dia-a-dia, leia nosso outro texto Reduzindo o Ego

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